Caminhar sem rumo, olhar para baixo, olhar para cima,
analisar os lados, tentar entender a vida sem racionalização ideal, somente
tentar sentir o que é vivido e perguntar a si mesmo; o que eu sinto?
É tão complicado tudo o que a gente passa. Não achas? Tudo
na nossa vida, os nossos problemas, as
nossas indiferenças, as nossas ilusões, os nossos problemas sociais, a nossa
impotência que parece limitar o nosso saber e fazer com que a gente ache uma
saída; tudo aquilo que um ser humano tem a capacidade de possuir. E esse tipo
de coisa, são coisas que pensamos em segundos, minutos, refletimos, é algo que
aparece na nossa cabeça, nos dá memórias fotográficas de momentos bons e ruins,
nos angustia, e sem saber como e porque, isso vai embora.
De repente, no meio desses devaneios sobre a própria vida,
sobre suas ações e sobre as situações nas quais a vida te colocou, em meio a
caminhada solitária e totalmente reflexiva, como de praxe, acabamos encontrando
algo, um amigo, um objeto, analisamos o que está ao nosso redor, algumas coisas
chamam atenção, outras não fazem diferença alguma. Algumas queremos por as
mãos, outras queremos jogar para bem longe.
E no meio dessa importância significativa espiritual e
emocional, ali estamos, olhando ao chão,
contando os quadrados de cada molde de concreto de uma rua, caminhando
sem tocar as divisórias do cimento que separam um molde de concreto do outro,
entramos dentro de nós mesmos, fazendo o que gostaríamos de fazer, pensando no
que gostaríamos de pensar. Nessas idas e vindas, encontramos no chão, um livro,
estranho, feio, aparência de usado, de velho, porém curioso, segue sendo um
livro, grande, grosso, com um laço que amarra sua capa e sua contra capa. Misteriosamente tem seu nome completo escrito
nele, na sua contra capa os dizeres: “Livro da Vida”.
Porque um livro, no meio da rua, com o meu nome? Porque
Livro da Vida?
Involuntariamente, pela ânsia, pelo nervosismo, você puxa o
laço, abre o livro e então lá começa um turbilhão de sentimentos, informações,
memórias, lembranças, erros, trajetórias, conquistas, vitórias, dúvidas, medos,
todos os seus altos e baixos, tudo o que
passou e tudo o que passará. Você olha para si mesmo e se pergunta; - o que está
acontecendo? Você conseguiu entender? Conseguiria entender? Eu entendo que não,
pois algo assim não aconteceria, é uma ficção que demonstra que muitas vezes
temos na nossa vida, aos nossos pés, diante de nossas mãos, coisas, pessoas,
objetos, oportunidades, e diante disso, depende somente de nós esticar o braço
para acolher tal coisa ou situação, se devemos olhar, pegaremos; se for um
livro, se sentir que podemos, então abriremos, pode ter algo que agrade a você, se lhe
der um sentimento bom, ou lhe fizer feliz, estique os braços com o maior dos
prazeres.
A oportunidade é algo único, e nós inevitavelmente nos
arrependemos de muita coisa que perdemos, por julgarmos o exterior, somente o
que é visível aos olhos, ou por darmos "valor" as más línguas que temem em opinar
diante de nossos ouvidos sem também o real conhecimento. É preciso conhecer
para poder falar, é preciso se instruir pra conquistar. A oportunidade é dada,
cabe a nós mesmos, escolher se devemos ou não “encontrar”.
Resgatei este livro enquanto caminhava em um deserto, eu nem
procurando estava, talvez ele tenha me procurado. Olhei, analisei, vi seu
formato sujo, empoeirado, velho, curioso, seco, duro, grande, grosso, antigo. Gostei, me senti bem, tive a vontade de abrir, senti com meu coração, pensei
com a minha própria cabeça, e as vozes dizendo para abrir, partiram de mim mesmo.
Eu abri, e hoje sou muito feliz.